IBM e o estúdio de design SOFTlab com sede em Nova York fizeram parceira para criar a primeira escultura responsiva, inspirada por Gaudí e desenvolvida com a tecnologia cognitiva Watson da IBM para o Congresso do Mundo Móvel (Mobile World Congress) em Barcelona, Espanha.
Para ajudar a projetar a escultura, Watson aprendeu sobre a história e estilo de Gaudí e a arquitetura de Barcelona através de milhares de imagens, obras literárias, artigos e até música. A partir destas referências. Watson ajudou a revelar teorias críticas das padronagens de Gaudí - como caranguejos, aranhas e paletas de cores - que a equipe de projeto inicialmente não associava com o arquiteto catalão. A escultura resultante possui 4 metros de altura e uma superfície feita de 1200 elementos únicos de alumínio, e lembra de forma inequívoca o trabalho de Gaudí, tanto na aparência como na sensação, mas ainda sim completamente distinta.
A escultura estava exposta de 27 de fevereiro a 2 de março no Mobile World Congress em Barcelona, onde interagiu com os visitantes ao mudar sua forma em tempo real, respondendo aos sentimentos da rede social twitter. Para aprender mais sobre a escultura, o Archdaily teve a oportunidade de conversar com o diretor do Watson, Jonas Nwuke, da IBM.
Sabrina Santos: Por que o trabalho de Gaudi em particular foi eleito para inspirar o projeto?
Jonas Nwuke: Arquitetos da SOFTlab sabiam que o Mobile World Congress de 2017 seria sediado em Barcelona, o que os instigou a criar algo que nunca tinham feito antes. A equipe trabalhou com Watson através da inspiração do legendário arquiteto catalão para criar uma escultura viva com dados. Antoni Gaudi foi um arquiteto icônico que moldou a cidade de Barcelona com sua arquitetura de vanguarda que estava anos luz de seu tempo. Em troca, a cidade influenciou o trabalho que ele criou. SOFTlab queria trabalhar com Watson para trazer esta abordagem do passado ao presente.
SS: Aproximadamente qual a porcentagem de decisões de projeto que foram tomadas por Watson em comparação aos projetistas da IBM e do SOFTlab?
JN: Watson agiu como guia em todo o processo de design, revelando insights da obra de Gaudi para inspirar os arquitetos, ao invés de tomar decisões por conta própria. A habilidade de processar grandes volumes de informação de Watson a partir de imagens e documentos fez nascer novas ideias e ajudou a equipe a reimaginar sua construção. Nossa visão para o Watson sempre foi usar computação cognitiva para aumentar, ao invés de substituir, a inteligência humana.
SS: Além das referências à caranguejos e aranhas, tiveram outras ideias ou conexões particularmente interessantes que Watson criou?
JN: A análise de Watson de milhares de obras inspiradas em Gaudi ajudou a equipe a escolher cores transformadoras e únicas - azul ultramarino, verde jade, amarelo e laranja - o que ajudou a SOFTlab a selecionar o filme dicróico furta-cor que dá vida à escultura. O trabalho de Gaudi traz temas claros como ondas, ondulações e arcos. Com Watson, a equipe puderam pode ver temas que não eram tão óbvios anteriormente, como doces e conchas, além de caranguejos e aranhas. Esses elementos ajudaram a inspirar as correntes penduradas e funis do projeto da escultura.
SS: Quanto tempo demorou para Watson revisar as imagens, documentos, cores e assim por diante?
JN: O projeto inteiro levou pouco mais de um mês para ser completado.
SS: Algumas dessas ferramentas (imagens, documentos, cores, etc) foram mais influenciadoras do que outras, ou os diversos meios se integram igualmente como inspiração?
JN: Watson revisou milhares de imagens, obras literárias, artigos e até música relacionada a Gaudi e Barcelona. Com isto, Watson foi capaz de integrar esses meios de maneira igual para se tornar um expert em Gaudi que pudesse ajudar a equipe a compreender um século de inspiração para re-inspirar o processo de projeto.
SS: Quem está criando a escultura em Barcelona? Quanto tempo levará este processo?
JN: Mais de uma dúzia de projetistas da SOFTlab trabalharam por mais de uma semana para instalar a escultura no Mobile World Congress em Barcelona.
SS: Quais são as medidas e materiais da escultura?
JN: A altura da escultura é de 4 metros. Sua superfície escultórica é feita de mais de 1200 partes únicas em alumínio. Esta superfície foi revestida em filme dicróico 3M que possui uma qualidade furta-cor e foi escolhido baseado em sugestões de Watson e inspirado pelo interesse de Gaudi por cores semelhantes. Este material em combinação com os luz controlada por dados produz uma série de colorações e tons variados. O filme dicróico foi então revestido com painéis de alumínio cortados a laser que foram inspirados por algumas das formas e azulejos utilizados por Gaudi. Os cabos orientados por gravidade de baixo são compostos de 100 metros de corrente de bola.
SS: Como os tons de Tweets influenciam a altura da escultura? Por exemplo, os Tweets positivos fazem a escultura se estender mais baixo?
JN: A escultura é responsiva ao sentimento social e utiliza a Análise de Tons API do Watson para identificar e reagir aos sentimentos a partir do Twitter. O tom e sentimento extraídos dos tweets será refletido na escultura, composta de 3 funis representando tópicos distintos. Cada funil é composto de anéis que mudarão de altura com base em um determinado traço de personalidade "grande 5". Um funil contém um anel que aborda quão abertas as pessoas são para a Inteligência Artificial no Mobile World Congress. A pontuação de Abertura para cada tweet relacionado a AI irá conduzir a altura do anel. A medida que a confiança que Watson determina nas mudanças de abertura das pessoas, a altura do anel também muda. O segundo funil contém três anéis que reagem ao nível de confiança de Watson em quão abertas as pessoas são para os 3 principais 'trending topics' do momento. O terceiro funil possui 5 anéis e aborda o 'zumbido' coletivo do evento. Cada anel representa um grande traço de personalidade (Paixão, Alegria, Excitação, Curiosidade e Incentivo) e as pontuações de confiança direcionarão a altura do anel.
SS: Como você prevê a influência da Inteligência Artificial - como Watson - no mundo da arquitetura no futuro?
JN: Imaginamos que Watson servirá como um assistente à outros arquitetos, agindo como uma extensão do processo criativo no futuro. Tecnologias cognitivas possuem a habilidade de revelar fatos e responder questões, e pode ser aplicado para inventar e explorar novas fronteiras, como a arquitetura. Por exemplo, além da arquitetura, Watson está ajudando profissionais em muitas indústrias criativas. No Baile de Gala do MET de 2016, IBM e Marchesa exibiram um vestido cognitivo usado pela modelo Karolina Kurkova que serviu como colaboração inovadora com cognição costurada em cada etapa do processo criativo - do conceito à pesquisa e desenvolvimento, do desenho e alteração ao produto acabado. Na música, o produtor vencedor de Grammy Alex da Kid colaborou com o Watson da IBM para inspirar sua música de lançamento como artista, "Not Easy". Para esta parceria, Watson analisou os últimos cinco anos de em dados relacionados a cultura e música para revelar novos caminhos emocionais para aumentar o processo criativo de Alex. Acreditamos que Watson foi continuar a servir como recurso para profissionais criativos buscando inspiração.
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